Quando o herói grego Aquiles nasceu, sua mãe (a nereida Tétis) o banhou no Rio Estige na tentativa de torná-lo imortal. Mas segurou-o pelo calcanhar, parte do corpo que acabou vulnerável. O mito é uma das inspirações do espetáculo Saia, que, depois de uma bem-sucedida temporada na cidade do Rio no primeiro semestre, participa agora do Circuito SESI. Serão quatro apresentações no total, nas unidades do SESI em Duque de Caxias (20/09), Macaé (26/09), Campos (27/09) e Itaperuna (28/09). Escrito por Marcéli Torquato durante as atividades da 4ª turma do Núcleo de Dramaturgia Firjan SESI em 2018, coordenado pelo diretor e dramaturgo Diogo Liberano, a peça propõe uma investigação sobre a superproteção e o instinto maternos, a importância da educação e a tentativa do ser humano de ter controle sobre a vida.

 A história chegou ao palco com direção de Joana Lebreiro e elenco que reúne as atrizes Eliane Carmo (Neném), Elisa Pinheiro (Mãe) e Vilma Melo (Aquiles). A dramaturgia será publicada pela Editora Cobogó, assim como outras duas criadas na mesma turma do projeto: ‘Desculpe o transtorno’, de Jonatan Magella, e ‘Só percebo que estou correndo quando vejo que estou caindo’, de Lane Lopes.

Quando a autora se tornou mãe, foi tomada pelo medo de morrer, de que sua filha ficasse sem mãe. Os recorrentes episódios de violência da cidade também a perturbavam. Esse foi o ponto de partida da dramaturgia. “Queria investigar essa característica da maternidade: a tentativa de controlar os riscos, de imunizar as filhas e filhos a todo custo. Não se pode fugir de tudo. É preciso que a vida aconteça”, explica.

O dramaturgo Diogo Liberano, que acompanhou todo o processo de escrita, comenta como foi bonito ver a autora se desafiando durante as aulas do núcleo. “Uma questão que sempre discutíamos era o que ela faria com esse medo que veio com a maternidade: confirmar sua existência ou dar um problema para ele? E ela acabou colocando em xeque o medo desta mãe numa história de muita delicadeza, que nos toca e afeta”, define Diogo.

A trama acompanha a rotina de uma mãe que, diante de um mundo violento, cria suas duas filhas literalmente sob a sua saia. O dia a dia não muda: é ir da casa ao trabalho, e vice-versa, até que um furo na vestimenta faz com que as crianças comecem a desconfiar da falta de acontecimentos em suas vidas.

“O texto é extremamente poético, cheio de metáforas nas entrelinhas e, ao mesmo tempo, põe em cena questões muito profundas e reais. É como um enigma, que vamos descobrindo aos poucos”, reflete a diretora Joana Lebreiro, que aceitou dirigir uma das peças criadas no Núcleo de Dramaturgia Firjan SESI antes mesmo de saber qual seria. “Sei que o Diogo Liberano tem uma pesquisa de dramaturgia muito contundente e que os trabalhos vindos do núcleo seriam, no mínimo, instigantes. E estava certa. Gostei muito de todos, mas ‘Saia’ me arrebatou”, acrescenta.

Ao lado da diretora no time criativo estão Gabriela Estevão (diretora assistente); Ana Luzia de Simoni (iluminadora); Marieta Spada (diretora de arte), Tatiana Tibúrcio (diretora de movimento e preparadora corporal) e Claudia Castelo Branco (diretora musical e trilha sonora), que compôs uma trilha original para o espetáculo. “Assim como a história apresenta situações cotidianas em cenas surrealistas, quis fazer essa mistura de elementos concretos e poéticos de uma forma experimental”, descreve Claudia.

Sinopse

Duas crianças são criadas sob a saia da mãe até que um furo na vestimenta faz com que elas comecem a desconfiar da falta de acontecimentos em suas vidas. Saia é uma investigação sobre o instinto materno em um mundo violento.

Núcleo de Dramaturgia

Em sua quinta edição, o Núcleo de Dramaturgia Firjan SESI nasceu da vontade de descobrir e desenvolver novos autores teatrais brasileiros e é aberto para quem gosta de escrita, com ou sem experiência em dramaturgia. O programa anual de estudo e criação mistura teoria e prática, por meio de atividades de leitura de textos filosóficos e dramaturgias escritas no decorrer dos séculos; discussões; exercícios individuais e de jogos textuais em dupla ou trio; e encontros presenciais com autores e artistas profissionais da cena contemporânea. Além dessas experimentações, os participantes escrevem duas dramaturgias, sob orientação de Diogo Liberano, coordenador do Núcleo de Dramaturgia Firjan SESI: uma menor, com cerca de 15 páginas, e uma final de no mínimo 30 páginas. “Pedagogicamente a atividade se dá a partir de distintos modos e tipos de escrita que cada autor ou autora traz. As turmas são compostas por 15 pessoas, a cada ano, assim, a diversidade de modos de escrita é muito grande. Temos encontros semanais com a turma toda e também individuais, nos quais discutimos a dramaturgia de cada aluno de maneira bastante profunda”, conta Liberano. “É muito gratificante ver o resultado”.

FICHA TÉCNICA:

Dramaturga: Marcéli Torquato

Diretora: Joana Lebreiro

Diretora assistente: Gabriela Estevão

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